Cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), criaram um aplicativo de celular que é capaz de identificar doenças neurológicas, como Alzheimer e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O objetivo é facilitar o acesso ao diagnóstico desses transtornos, além de permitir a triagem neurológica fora de laboratórios.
O app idealizado pelos pesquisadores acompanha a mudança de tamanho da pupila do paciente através da câmera frontal de smartphones mais modernos, que possuem tecnologia infravermelha para o reconhecimento facial.
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Essa medição da mudança de diâmetro da pupila já é um método utilizado para diagnosticar e monitorar diversos distúrbios neurológicos. É o chamado teste de resposta da pupila.
Porém, para realizá-lo, é preciso equipamentos especializados e caros, tornando inviável a realização fora do laboratório ou da clínica. Por isso, o aplicativo surge como uma alternativa mais econômica e viável para a triagem e para facilitar o diagnóstico, popularizando o processo.
Para Eric Granholm, professor de psiquiatria da Escola de Medicina da UC San Diego e diretor do Centro de Tecnologia de Saúde Mental da UC San Diego (MHTech Center), o app poderá ser utilizado em larga escala em exames comunitários, podendo trazer "um enorme impacto na saúde pública".
Através de uma câmera de infravermelho frontal de um smartphone, o aplicativo detecta a pupila do usuário. Graças a essa tecnologia, a região do olho é facilmente diferenciada da íris, independentemente da coloração. Com isso, é possível calcular o tamanho da pupila com precisão.
Além disso, o programa também usa uma foto tirada pela câmera frontal para capturar a distância entre o smartphone e o usuário. Portanto, o app consegue converter o tamanho da pupila da imagem do infravermelho em unidades milimétricas para medir o diâmetro de maneira precisa.
Os dados apresentados pelo programa foram comparáveis aos resultados de máquinas de alta qualidade para a detecção de mudanças no tamanho da pupila. Além disso, os cientistas ganharam menção honrosa de melhor artigo na conferência ACM Computer Human Interaction Conference on Human Factors in Computing Systems pelo trabalho.
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Um grupo de idosos participou da pesquisa para criação do aplicativo, que deve funcionar de maneira simples e prática, facilitando o uso de diversas pessoas. O aplicativo ainda precisa ser desenvolvido de fato e está disponível apenas como um protótipo.
A próxima fase do estudo é testá-lo com indivíduos mais velhos e que já apresentam comprometimento cognitivo leve para avaliar o uso doméstico da tecnologia. O objetivo é que ele seja usado como uma ferramenta de triagem de risco para a doença de Alzheimer em estágio inicial.
Um estudo publicado em 2016 no periódico Cognitive Psychology e realizado no Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, mostrou que existe uma ligação entre o tamanho inicial da pupila e a capacidade cognitiva de um indivíduo. Segundo os pesquisadores, quanto maiores as pupilas, melhor o desempenho em testes de raciocínio, atenção e memória.
O trabalho envolveu mais de 500 participantes, entre 18 e 35 anos, de Atlanta, também nos Estados Unidos. Os cientistas notaram que a diferença do tamanho das pupilas entre os voluntários com as maiores pontuações nos testes e aqueles com os piores desempenhos era grande o suficiente para ser detectada a olho nu.
Os estudiosos, porém, não concluíram por que essa relação existe, mas levantaram hipóteses. Uma delas é que os participantes com pupilas maiores em repouso têm maior regulação da atividade cerebral pelo "locus coeruleus", uma região do tronco cerebral que libera noradrenalina, neurotransmissor responsável por regular atenção, memória, cognição e a atividade dos vasos sanguíneos.